26 de abril de 2012

Literatura na sala de aula: desperte o prazer pela leitura




Muito tem sido falado sobre a literatura e a falta de interesse dos alunos. Também muito são criticados os professores que utilizam métodos obsoletos de aprendizagem, sem proporcionar qualquer prazer para um aluno já relutante.
E eu sou o primeiro a manter essa crítica.
No entanto, além de criticar, eu pretendo também indicar soluções: com um pouco de criatividade podemos criar dezenas, talvez centenas de formas diferentes de trabalhar uma determinada obra na escola, de forma a atrair a atenção e o interesse dos estudantes.
Vou usar como exemplo um dos livros mais consagrados da literatura: Don Quixote.
De que forma(s) a obra-prima de Miguel de Cervantes poderia ser estudada com prazer na escola?
Vamos partir do início: a leitura.

Possibilidades e jogos de leitura

  • Fazer a leitura em voz alta de alguns capítulos da obra: alunos e professor intercalando a leitura e criando curiosidade quanto ao resto da história. É muito mais divertido do que uma leitura solitária;
  • Jogo de incorporação à leitura: escolhemos um capítulo ou trecho e fazemos algumas marcas no texto (a cada duas ou três linhas). Um aluno inicia a leitura em voz alta e, seguindo uma ordem estabelecida antecipadamente, um novo aluno começa a ler a cada marca do texto, até que todos estejam lendo juntos;
  • Feira de leitura: o grupo encarregado da atividade anunciará — como faziam os leiloeiros antigamente — que em determinada hora e lugar será feita a leitura de certo trecho do livro. Também farão cartazes anunciando o grande acontecimento;
  • Leitura dramatizada: um grupo prepara a narração de algum capítulo da obra para contar aos outros (ao ar livre), utilizando imagens seqüenciais dos fatos. Os narradores podem vestir-se conforme o estilo da época e pode-se encenar alguns personagens;
  • Leitura musical: cada grupo fica responsável por um capítulo e escolhe uma música que combine com o trecho a ser lido. Durante a leitura podem ser feitas pausas para ouvir a música, que ficará de fundo para os narradores.
Que tal? Não são idéias tão complicadas de ser feitas e, sem dúvida, são muito mais divertidas do que um “Leiam o capítulo 5 para a próxima aula!”.
E depois de terminada a leitura? Ficha de leitura para serem preenchidos resumo, personagens e fatos principais? Nem pensar! Não mate os pobres alunos de tédio.

Jogos para depois da leitura

Brincando com os personagens
  • Imaginar como são: desenhá-los, descrevê-los;
  • Desafio de desenho e pintura: concurso de Sanchos e Quixotes;
  • Procurar fotos na internet dos personagens e montar um mural. Depois ler em voz alta algumas falas para ver se os alunos descobrem de que personagem são;
  • Quem é quem?” com os personagens do mural. Dividir a sala em dois grupos pode ser divertido aqui;
  • Escolher um personagem do mural e inventar uma nova vida para ele, uma aventura ou imaginar como seria atualmente;
  • Escrever uma carta ao personagem que cada um escolher.
Brincando com o ambiente
  • Localizar “A Mancha” em um mapa;
  • Descobrir e seguir rotas sobre um mapa;
  • Localizar lugares, populações;
  • Construir murais que mostrem a paisagem;
  • Investigar sobre os tais moinhos;
  • Desenhar os moinhos;
  • Confeccioná-los usando materiais diferentes;
  • Pesquisar sobre costumes e condições de vida da época;
  • Imaginar uma aventura do protagonista em outros lugares, cidades ou países diferentes.
Brincando com palavras
  • Sopas de letrinhas;
  • Palavras cruzadas;
  • Desafios de vocabulário, trabalhar em diversos níveis, com graus de dificuldade variados;
  • Elaboração de pequenos dicionários visuais — escolhe-se um objeto, desenha-se e escreve-se uma simples explicação sobre suas partes ou elementos;
  • Associação de palavras e objetos aos personagens;
  • Agrupar palavras de uma lista por campo semântico;
  • Trabalhar com frases curtas e simples da obra e completá-las com outras novas, para formar rimas: “Tinha em sua casa uma ama que passava dos quarenta/que cuidava da casa e estava sempre atenta”.
Brincando de investigador
  • Copiar e ilustrar algumas frases ou refrões que apareçam na obra;
  • Copiar conselhos que Don Quixote dá a seu escudeiro Sancho;
  • Copiar (talvez cozinhar) a culinária da época: fazer fichas de receitas;
  • Copiar gírias de uso cotidiano: saudações, despedidas etc.
Suficiente? A parte da leitura e interpretação já está bem trabalhada. Vamos passar para a parte da escrita.

Estimulando a escrita

  • Escrever uma carta que os próprios personagens nos teriam enviado, de algum lugar da Mancha;
  • Texto no qual um personagem descreve a si mesmo;
  • Desfile de modelos: entregamos a foto de um personagem e os alunos devem descrevê-lo utilizando comentários como se fosse um desfile de moda;
  • Transformar um episódio que já tenha sido comentado na aula em uma notícia, utilizando a linguagem dos jornais;
  • Entrevista com um personagem: elaboram-se as perguntas antecipadamente, tendo em vista qual seu papel na narrativa;
  • Reescrever um capítulo em forma de quadrinhos;
  • Escrever um capítulo em forma de crônica: colocar a hora em cada um dos acontecimentos;
  • Escrever poemas simples em torno do personagem, objeto ou fato.
Todo mundo escreveu, leu, interpretou? Agora é hora do foco na dramatização: os alunos devem sentir-se parte da história e reviver os fatos do livro.

Fazendo teatro e outras representações

  • Escolher um capítulo e adaptá-lo para linguagem teatral;
  • A dita representação pode (e, de preferência, deve) ter acompanhamento musical, corais etc.;
  • Representações com fantoches: pode-se adaptar um capítulo para crianças, utilizando linguagem muito simples;
  • Teatro de sombras: podemos optar pela construção de figuras ou sugerir que os próprios alunos atuem diretamente.
E agora é hora de desenvolver as habilidades de produção artística.

Oficina de artistas

  • Fazer marca-textos: os próprios alunos podem desenhá-los, depois plastificá-los;
  • Pintar camisetas com cenas da obra, falas de personagens ou o que mais desejarem;
  • Decorar recipientes de vidro com pintura especial para isso;
  • Fazer a armadura de Don Quixote utilizando cartolinas prateadas;
  • Confecção de máscaras com a técnica do jornal picado, farinha e água; 
  • Confecção de fantoches utilizando material reciclável.
Ufa! Aposto que isso é muito mais do que qualquer professor já tenha trabalhado sobre uma obra ou qualquer aluno tenha se interessado por um livro.
É claro que não será possível, conforme nossa realidade, organizar todas essas tarefas. Mas a partir delas, muitas outras idéias podem surgir ou ser adaptadas. Cabe a cada professor saber a hora certa de colocá-las em prática e também ao aluno sugerir (ou exigir, em casos extremos) sua realização.

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